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É preciso “um porto para o futuro”

Por Dodó Carvalho

Nasci na várzea. Sou filho do mundo amazônico das águas. Cheguei a Manaus, vindo de Parintins nos idos anos de 1985. Desembarquei na antiga “Escadaria dos Remédios”, hoje Manaus Moderna (SIC!). E desde que me entendo por gente, pouca coisa mudou no que diz respeito aos portos da minha terra. Em Manaus, porta de entrada e saída do turismo no Amazonas, bem como centro do mundo econômico da região norte, com seu invejável polo composto por mais de quinhentas grandes empresas, falar de porto que atenda com o mínimo de qualidade a população é falar de uma utopia.

Não é preciso ser especialista para entender o quanto a maioria dos portos públicos de Manaus não atendem em absoluto, qualquer requisito técnico para garantir um serviço humanizado. Para não me alongar, escolhi o maior e mais expressivo dentre eles: a Manaus Moderna. Fiz tal escolha porque, apesar da “correnteza política e burocrática” que tanto nos emperra, o empresariado amazonense sabe “remar” contra essa mesma “correnteza”.

Os portos privados fazem o navegar de nossas riquezas, acontecer. Mas, é sobre os que carregam vidas humanas, que me debruço. E me pergunto: “por que tamanho descaso? Por que tratar com insignificância nosso maior meio de transporte?

Por ano embarcam e desembarcam mais de um milhão e setecentas mil pessoas nos portos do Amazonas e é na Manaus Moderna, que a expressiva massa de usuários busca pelo seu ir e vir amazônico. Além disso, cargas saem de Manaus para as cidades do interior e esse movimento inverso é real e visível todos os dias, nas escadarias enferrujadas e improvisadas daquele volumoso terminal.

É na Manaus Moderna que embarcam e desembarcam uma parcela de turistas que não sabem ou não entendem, se o espaço é um porto ou uma feira? Pode ser os dois? Pode, mas, não do jeito que está! É preciso uma voz que clame para outras vozes e assim juntas façam um coro que diga aos quatro cantos e principalmente aos governantes, que é hora de mudar.

Esse coro tem um nome, ele se chama: povo! Somente a sociedade amazonense pode mudar a dura realidade que nos castiga desde os tempos do Booth Line e o indefectível Road Way. Aliás, único porto decente construído em Manaus, nos últimos 150 anos. Acredito piamente, que chegou a hora de tocar nessa ferida histórica.

Que é hora de abraçamos um projeto de construção de um terminal hidroviário na Manaus Moderna, que seja humano, decente e eficiente, para aqueles que dele possam se utilizar, traduzindo: a maioria esmagadora dos amazonenses. Entender o rio e o porto como nossa verdade geográfica, social e econômica, é aceitar-nos como homens e mulheres amazônidas. Isso é a nossa verdade. O resto é despreparo e desprezo que se Deus quiser, um dia, o rio há de levar.

*Empresário do ramo da navegação e vice presidente do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial do Amazonas – Sindarma.

 

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